segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A Voz que Nos Rasgou por Dentro

De onde vem - a voz que
nos rasgou por dentro,
que trouxe consigo a chuva negra
do outono, que fugiu por
entre névoas e campos
devorados pela erva?

Esteve aqui — aqui dentro
de nós, como se sempre aqui
tivesse estado; e não a
ouvimos, como se não nos
falasse desde sempre,
aqui, dentro de nós.

E agora que a queremos ouvir,
como se a tivéssemos re-
conhecido outrora, onde está? A voz
que dança de noite, no inverno,
sem luz nem eco, enquanto
segura pela mão o fio
obscuro do horizonte.

Diz: "Não chores o que te espera,
nem desças já pela margem
do rio derradeiro. Respira,
numa breve inspiração, o cheiro
da resina, nos bosques, e
o sopro húmido dos versos."

Como se a ouvíssemos.

Nuno Júdice

3 comentários:

Leticia Gabian disse...

Este Nuno Júdice tem coisas incríveis. Já li bem pouco, mas me deixou aquele gostinho de quero mais.
Obrigada pela partilha!

Beijo grande

Maria disse...

Este poema de Júdice é muito belo - acho que são todos...
Mas penso porque o terás publicado hoje... alguma dor mais forte? especial?

Abraço-te

Cravo a Canela disse...

Posso respirar contigo o cheiro
da resina, nos bosques, e
o sopro húmido dos versos?